terça-feira, 26 de julho de 2011

3-6 anos: A idade da fantasia.

Seu mundo é diferente do mundo dos adultos porque sua imaginação lhes oferece possibilidades muito mais criativas e inesperadas.


Um simples boneco pode voar ou ainda se transformar em um bandido famoso.

O capitão Gancho pode entrar dentro de casa a qualquer momento, exibindo seu gancho reluzente e um sorriso "papameninos" na boca. Para as nossas crianças, um personagem de histórias infantis, uma fada ou a própria "Pocahontas" são tão reais como seus amiguinhos.


Estão na idade da fantasia, onde tudo se passa dentro de uma lógica diferente da nossa, e as próprias crianças, com uma simples capa, podem se transformar em super-heróis vingativos.

Entre os 3 e 6 anos, nossos filhos se encontram numa idade em que é muito fantasioso o modo como vêem as coisas e a própria realidade. Porque vêem o mundo que os rodeia em função de seus próprios interesses, isto é, daquilo que atrai a sua atenção e do que excita a sua imaginação... Seu mundo é diferente do mundo dos adultos porque sua imaginação lhes oferece possibilidades muito mais criativas e inesperadas. Um simples boneco pode voar ou ainda se transformar em um  bandido famoso.

Nossos filhos estão em processo de crescimento, e disso faz parte o aumento da  fantasia, da criatividade e da capacidade imaginativa... De tal forma que, às vezes, esse outro mundo chega a invadir a realidade.

Uma fantasia especial
Para os meninos e meninas nessa idade, essa maneira especial de ver o mundo se denomina "pensamento mágico". Acreditam que o impossível seja possível.

Por exemplo, enquanto pequeninos, estão convencidos de que todos os seus desejos vão se realizar, sendo simplesmente uma questão de querer.

Acreditam que, pelo fato de desejarem e repetirem muitas vezes, podem fazer aparecer, na tela, mais desenhos animados...

Sua fantasia continua misturada com a realidade. Por isso, deixando-se levar pela imaginação, tendem a exagerar qualquer acontecimento ao seu redor, tanto para o bem como para o mal. Além do mais, confundem o que desejariam que acontecesse com aquilo que pode acontecer, porque ainda não sabem distinguir entre o real e o fantástico.

Simulação ou realidade

O processo de crescimento e maturidade não é nada fácil para uma criança. Pouco a pouco ela terá de se confrontar com o mundo, de se relacionar com os demais... Por tudo o que hão de passar, as crianças sentem necessidade de um mundo interior que lhes ofereça proteção e possa se transformar em um refúgio para elas.

Quando a criança brinca de imaginar, ela se transforma na pessoa todo-poderosa que não é na realidade. Inventa e transforma... um pau, por exemplo, vira um cavalo de corrida. Isto porque a fantasia é, para ela, um modo de aprender. Com a imaginação, ela cria situações novas e se põe dentro delas, como num jogo de faz-de-conta. Esta é a maneira de viver uma grande variedade de experiências: poder se transformar em mamãe, em um professor, ou em um  maestro.

E não apenas transforma um objeto em outro, mas também é capaz de transformar-se a si mesma; pode mudar de identidade, de um momento para outro, passando da ficção à realidade quantas vezes achar necessário fazê-lo, além de buscar cúmplices que participem também deste jogo fantástico.

Gênios e criativos

É conveniente que as crianças usem essa capacidade de fantasia, que brinquem muito com ela, que inventem, pintem, usem disfarces, expressem-se etc. Provavelmente serão, no futuro, pessoas muito mais criativas.

Mas precisamos também manter vigilância para intervir no momento oportuno, de modo a poderem   separar seu pensamento racional de sua imaginação, e irem assimilando a realidade tal como é.

O uso da fantasia apresenta muitas vantagens para a criança, além da função que cumpre, em seu desenvolvimento natural e em seu amadurecimento:

- A fantasia favorece a criatividade, a imaginação e a sensibilidade. Nessa idade, a criança nos surpreenderá com seus argumentos e saídas curiosas, porque está naturalmente predisposta a isso.

- A fantasia facilita a capacidade de se entreter e não se entediar. A criança é capaz de inventar mil modos de se divertir, sem necessidade de aparatos televisivos como videogames etc.

- A fantasia favorece a inteligência, por se tratar de um exercício intelectual em todos os sentidos.

Pais participativos

Nosso papel de pais deve consistir em ajudá-los a diferenciar a realidade daquilo que só existe na sua cabeça, algo fundamental para que possam ir amadurecendo. Mas a distinção entre estes dois mundos só deverá ser feita à medida que for necessário. Não precisamos ter muita pressa, pois não há mal nenhum em que, de vez em quando, as crianças se deixem levar pela sua portentosa imaginação.

Mais importante que ajudá-las a pôr os pés no chão, recorrendo a argumentos "lógicos", é que possamos participar de suas brincadeiras fantasiosas, embora, como todos sabemos, não seja lá muito fácil brincar com os nossos filhos nessa idade.

O que faz falta é tomar parte em sua fantasia e deliciar-se com um sorvete imaginário, servido em uma colher de 10 centímetros, ou agir como se fôssemos autênticos lobos, ou índios.

Resumindo...Brincar com eles:

- É preciso participar, e não apenas ser meros espectadores das brincadeiras de nossos filhos, para compartilhar com eles esse mundo mágico e fantasioso em que vivem.

- Para brincar com eles, temos de nos colocar à sua altura, o que supõe deitarmos no chão, mais de uma vez, ou comprarmos de verdade a fruta de plástico que nos oferecerem.


- O tempo deles, para brincar, deve ocupar um espaço fixo em nosso horário, transformando esses momentos em uma aventura intensa, durante a  qual não haja lugar para a pressa.

Em vez de dirigirmos suas brincadeiras, devemos ajudá-los a manifestarem sua liberdade e criatividade,  permitindo que sejam eles os protagonistas.

-  Temos de entrar em seu mundo e nos deixar envolver por sua lógica e fantasia infantil, em vez de pretender que nosso filho abdique dele para acomodar-se à realidade dos mais velhos.

Distinguir a realidade

- Aproveite os momentos em que não estiver brincando, para falar com o seu menino, como se ele fosse um homenzinho, mas sem forçar a conversa. Quando ele mudar de assunto e começar a falar de monstros, entre nessa corrente.

- Para que ele supere alguns medos causados por sua fantasia, cabe a nós darmos as razões disso. Se os leões o assustam, explicaremos que eles vivem na África, que em nossa casa é impossível entrarem, em vez de zombarmos dele.

- Você pode ir explicando, pouco a pouco, com argumentos de acordo com a idade infantil dele, que nem tudo o que ele vê na televisão se adapta à realidade.

- Podemos explicar-lhe o que é possível fazer para entrar em casa quando estamos sem as chaves. Primeiro há que propor soluções factíveis, reais, que possam ser executadas ("a titia tem uma cópia"). Depois é que o incentivaremos a usar a fantasia para saber como resolveria o problema ("se fosse o Superhomem entraria voando").


 
Por: Ricardo Regidor
Ediciones Palabra

Tradução: M. C. Ferreira

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Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.

Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.

Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.

Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.

Rubem Alves

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